domingo, 17 de outubro de 2010

Viver é simples




"Só bebo aos sábados e domingos, senão desregula tudo", diz Alexandre, sentado na mesa daquele barzinho pé-sujo numa quase esquina de Copacabana. Como quem não quer nada, ele fica ali, sentado, observando o ir e vir dos personagens que circulam livremente por esse bairro. Uns discretos, quase imperceptíveis, outros espalhafatosos, do tipo que estrearam em vez de nascerem. Todos de sexos variados e alguns até de sexo desconhecido - pelo menos oficiosamente.
Alexandre fica ali, na dele, batendo papo com um ou outro conhecido que pinta no boteco - ao contrário do que se pensa, em Copacabana as pessoas se relacionam como num bom subúrbio. E às vezes tão invasivas e aconselhadoras como em qualquer esquina suburbana. E Alexandre, claro, embora fique na dele, "pega amizade fácil": fala uma palavra ali, outra aqui, vai entrando no papo, mesmo que nem sempre seja chamado.
Sentado, Alexandre fala. Não, não é falar pelo falar. Ele entra nos papos. Participa. Dá opiniões. "Poxa, vão ficar discutindo política? Isso não vale a pena, eles não estão nem aí pra gente", sentencia. É a clássica sabedoria de botequim. Às vezes alguém o escuta. Na maioria das vezes, não: quando a paixão invade as conversas, não há sensatez que a destrua. É o lado bom - e ruim - da paixão: sem meio termo.
Enquanto isso, o copo de cerveja vai ficando vazio. Alexandre o enche de novo, afinal, o fim de semana está acabando e a partir de segunda, nada de álcool! É preciso se cuidar... e o álcool desequilibra não só o pensamento, como sobretudo o corpo. Sobretudo o corpo de Alexandre, que não é frágil, mas é especial.
Alexandre tem 30 e poucos anos. E muitas dúvidas no olhar. Mas vai seguindo sua vida. Com todas as incertezas que cercam seu futuro, ainda assim vive sua vida. Vai e volta com desenvoltura. Toma conta de si mesmo. Dorme e acorda sabendo que vale um dia de cada vez.
Alexandre é meu xará. Tem síndrome de Down. E todos os fins de semana está ali, naquele botequinho, tomando sua cerveja gelada com sua mãe. Foi ali, tomando cerveja, que eu o conheci. E conversamos bastante. Ele, inclusive, me deu conselhos no dia em que discuti ásperamente por causa de política - foi no primeiro turno da eleição. Semeou sabedoria e tranquilidade. Sem, claro, deixar de tomar sua cerva, porque, afinal, todos nós, sem mais nem menos, sãos ou nem tanto, somos filhos de Deus. Acreditando ou não nele.

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